A transformação digital trouxe grandes desafios para as instituições financeiras, que estão passando por um momento de reinvenção estrutural e de modelo de negócios. Enquanto as empresas investem cada vez mais no sistema open banking, para desverticalizar o processo bancário e democratizar o acesso ao crédito, muitos clientes ainda mostram resistência a esse novo formato.
Segundo um estudo realizado pela Opinion Box, a pedido do Paypal, com donos ou decisores de empresas, mais de 70% dos entrevistados afirmam confiar mais nos bancos tradicionais na hora de buscar crédito, apesar de apontarem essa opção como a mais difícil de obter um financiamento.
“Como o poder sempre esteve nas mãos dos bancos, os usuários ainda estranham o empoderamento conquistado com a inovação no mercado financeiro, que acontece por meio da tecnologia e de um processo de inversão de fluxo”, explica Felipe Avelar, fundador e CEO da startup Finplace (https://www.finplace.com.br/), fintech que conecta de forma gratuita empresas que precisam de crédito com instituições financeiras. Segundo o executivo, agora em vez de as instituições financeiras determinarem as variáveis que envolvem as operações de crédito, agora é o cliente que está no centro da tomada de decisão, graças às ferramentas oferecidas por fintechs.
Mesmo com essa virada de chave que vem acontecendo no mercado financeiro, ainda existe bastante preconceito por parte dos empresários brasileiros, em especial a visão de que o tomador de crédito é uma empresa ou pessoa que está endividada. Na verdade, é muito comum, em uma economia forte, as empresas necessitarem de capital de giro, uma vez que o crédito, em sua essência, significa fomento ao crescimento.
“Um dos maiores desafios das fintechs é a mudança de mindset do empresário, fazer com que ele entenda as novas regras do jogo. O empresário brasileiro está tão acostumado à relação baseada no “medo” do banco que ele tem um vínculo quase pessoal, que beira a dependência emocional, com o seu gerente de conta”, avalia Avelar, da Finplace.
O open banking, disseminado pelo Banco Central do Brasil, busca trazer novos entrantes e novas formas de fazer negócios, com base em tecnologia. Com ele, a ordem de poder se inverte: o cliente sinaliza qual é a sua demanda, e o financiador avalia, de acordo com as suas regras de política de crédito, se vai conseguir atendê-las ou não. E a solicitação hoje pode ser feita por meio de uma plataforma online, que faz uma busca completa, a custo zero, em todo o ecossistema financeiro.
“O open banking tem sido discutido em vários países ao redor do mundo, com escopo e dimensões diferentes. No caso brasileiro, optamos por um modelo o mais abrangente possível. O primeiro objetivo é empoderar o consumidor financeiro, bem na linha de proteção de dados, de que a informação pertence ao consumidor e cabe a ele decidir compartilhar ou não essa informação com terceiros”, afirma o diretor de Regulação do BC, Otávio Damaso.
Existe um esforço do mundo inteiro para desverticalizar as relações e torná-las peer-to-peer, ou ponta a ponta, eliminando o intermediário e deixando a operação mais acessível. O foco principal é fazer um capitalismo cooperativo, que é quando as pessoas gastam menos energia e cooperam mais, democratizar o acesso ao crédito, desenvolver a economia com volume transacional de negócio e, por consequência nos tornar o país uma nação mais forte.
A democratização do acesso ao crédito é um processo abrangente, uma vez que garante uma estrutura econômica mais sólida e traz um maior volume de operações. A partir daí, é possível falar de uma transformação mais profunda da sociedade, que inclui diversidade, aceitação e empatia.