Luca Benites, brasileiro, atualmente vivendo em Barcelona, na Espanha, já expôs suas obras em importantes museus e galerias mundo afora e ganhou ainda mais destaque em 2017 ao queimar todo seu acervo produzido ao longo de 18 anos de trabalho. Uma performance artística que divide opiniões, mas que funcionou como uma espécie de reflexão para seus próximos passos e encaixou-se perfeitamente bem em um cenário de pandemia como o que estamos vivenciando, onde a concepção do tempo a nível mundial mudou.
Seu contato com o mundo das artes já acontecia desde 1998 quando começou a pintar. Formou-se em arquitetura no Uruguai, país onde morou por 15 anos. Em 2010 mudou-se para Barcelona para se dedicar à carreira de artista. Tem mais de 70 exposições internacionais em cidades de todo o mundo. Seu trabalho faz parte de coleções como o MAC - Niterói, Parque de Esculturas ALMA (Quinta Pedras de Rio) em Portugal, Parque de Esculturas da Fundação Pablo Atchugarry em Punta del Este, Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, Centro Cultural KAVLIN de Punta del Este, Centro de Arte Contemporânea Piramidón em Barcelona, entre outros.
Mas, uma das conquistas mais importantes da carreira do artista chegou agora. Luca Benites é o mais jovem expositor da renomada Dan Galeria (São Paulo, Londres e Portugal), galeria com quase 60 anos de história e com enorme trajetória dentro do mercado de arte mundial.
"É uma oportunidade única estar ao lado de nomes como Tony Cragg, Anish Kapoor, Jong Oh, Denise Milan e vários artistas que fazem parte das minhas referências. Sem dúvida pra mim é quase um sonho, uma coisa que eu esperava algum dia chegar, só não pensava que seria tão cedo. Estou super grato por tudo. A entrada na Dan é um ponto fundamental para minha consolidação tanto no Brasil quanto pelo mundo", comenta.
Em 2017, Luca realizou uma performance artística como uma reflexão sobre o valor do tempo e a impermanência das coisas. No projeto intitulado "Fogo", queimou todo seu acervo de 18 anos de carreira. Todo seu trabalho de 1998 a 2016 foi queimado, um por um, no alto de uma montanha na Áustria. Entre as obras estavam pinturas, fotografias, maquetes, desenhos e algumas pequenas esculturas, totalizando 298 peças.
O projeto Fogo era uma inquietação pessoal, do Luca como pessoa, uma necessidade de mudança. Depois de resolver todas as pendências para que a queima ocorresse, questões de logística o levaram a realizar o projeto na propriedade de uma amiga no povoado de Ebnit, na Áustria.
O projeto "Fogo", procurava propor uma reflexão sobre a passagem efêmera do tempo, como a humanidade o utiliza no dia a dia e a importância dedicada à rotina. As cinzas que resultaram das obras queimadas, foram usadas pelo artista em diferentes formatos, um deles como ampulheta de areia mas com cinzas. O projeto se estendeu para um documentário que será lançado em breve, registrando toda a ação e em um livro com todas as obras queimadas e as criadas com as cinzas.
Para Luca, a queima representou uma depuração em sua vida profissional, que foi levado para o âmbito pessoal também. Suas inspirações, anteriormente ligadas mais à arquitetura e a configuração das cidades, deram espaço para um entendimento mais amplo e muito mais livre em suas criações, suas inspirações e ao uso de materiais. Mesmo sendo realizado em 2017, a mensagem proposta por Luca com este projeto, continua muito atual. Neste momento de grande incerteza sobre tantos assuntos, a frase utilizada pelo artista repetidamente durante a realização do projeto, encaixa perfeitamente neste novo cenário: "Estamos realmente vivendo ou sobrevivendo?"
"Documentar, acumular, queimar, destruir e reorganizar. Situações que nos levam a novas considerações e nos aproximam de nossa única certeza. Essa certeza de que um dia o mesmo caminho marcará um ponto final nesta jornada que é viver." Fragmento do texto escrito pelo o artista durante o Projeto "Fogo".
Em 2020, em uma viagem ao Deserto do Atacama, o artista finalizou este projeto ao se encontrar com o vazio físico e real, e finalizar assim esta etapa pessoal que durou quase 4 anos. Hoje em dia, seus delineamentos funcionam de forma diferente. "Meu processo de criação tem sido mais lento que antes, porém mais preciso. Ainda sim estou com vários projetos. Minha concepção de tempo é diferente do tempo normal, do tempo cronológico. O conteúdo do trabalho tem que ser tão ou mais importante que a peça em si mesmo, ambos se complementam, hoje eu entendo isso. Minha obra vai refletir o meu momento presente, sempre. O projeto fogo me liberou dessas correntes, agora me sinto mais capacitado e livre para questionar outras coisas e seguir este eterno processo de autoconhecimento expressado através da arte. Eu sinto que tenho o pleno controle do meu tempo e é o que todas as pessoas deveriam ter. Esse projeto veio me iluminar e iluminar outras pessoas", finaliza.