Descentralizar as gestões de dados, aumentar a segurança, reduzir custos, otimizar a operacionalização dos serviços e garantir melhores experiências ao consumidor final. Com essa concepção, as organizações vêm apostando no uso da nuvem para alcançar êxito na jornada da transformação digital. Só este ano, a previsão da Gartner é de que os usuários finais invistam mais de US$ 500 bilhões na tecnologia, que permite virtualizar recursos e colocá-los em pools compartilhados. Para 2023, os gastos devem atingir cerca US$ 600 bilhões.
Dados da mesma empresa de consultoria confirmam que a migração global das organizações para o compartilhamento de dados em nuvem tem se acelerado. No ano passado, o mercado mundial de infraestrutura como serviço teve um crescimento de 41,4% em relação a 2020, chegando a US$ 90,9 bilhões comparados aos US$ 64,3 bilhões daquele ano.
No Brasil, a expectativa é de que o investimento nos serviços em nuvem aumente 20% em 2022. É o que aponta a pesquisa Public Cloud – Services & Solutions Brasil 2021, lançada em dezembro do ano passado pela da ISG Provider Lens. Embora o mercado brasileiro empenhe esforços para a chamada transformação digital, a qual o uso da nuvem está atrelado, alguns desafios precisam ser vencidos para o alcance a novos patamares de eficiência e produtividade.
Na área das telecomunicações, por exemplo, existe uma demanda por conectividade associada a uma necessidade das operadoras de ampliar sua cobertura e reduzir custos de implantação. E só o acesso massivo às novas tecnologias pode proporcionar que as operadoras do setor ampliem seu impacto econômico. É o que aponta o estudo da SmC+ Digital Public Affairs, a pedido da American Tower.
De acordo com o especialista em Tecnologia da Informação para a área de Telecomunicações, Vinicius Monteiro Conceição, no caso da adaptação ao uso da nuvem, há diversas barreiras que impendem com que esse avanço seja mais célere. Um dos problemas, segundo ele, tem a ver com a cultura empresarial, já que as empresas de telecomunicações são bem estabelecidas e têm décadas de experiência com um ecossistema altamente tecnológico que existia muito antes de os provedores públicos de computação na nuvem estarem disponíveis.
“Devido a isso, a capacidade de planejamento, execução e operação de centros de processamento é alta e refinada e, em geral, as operadoras de telecomunicações têm o conhecimento para expandi-los segundo a necessidade de seu negócio. Se por um lado essa cultura beneficia a manutenção de sistemas em um centro de processamento local, ela também dificulta a adoção de tecnologias na nuvem porque a organização deixa de ter controle direto sobre esse aspecto físico. Nem sempre se reconhece que é um passo importante para dar foco em seu negócio principal”, explica.
Outro entrave está relacionado a arquitetura de sistemas, uma vez que historicamente as empresas de telecomunicação mantêm sistemas robustos para atender seus clientes. Segundo ele, isso se fez por meio de metodologias e tecnologias tradicionais, resultando em arquiteturas primariamente monolíticas.
“Esses são sistemas de grande porte e complexidade compostos de componentes altamente interligados e interdependentes. Em virtude dessa alta coesão, a migração de sistemas à nuvem para essa indústria é uma tarefa desafiadora”, completa.
Estratégias que podem colaboração com a adoção da nuvem pelas Telecoms
Para alcançar o objetivo, Vinicius Conceição lista três estratégias. Uma delas, a substituição seletiva, com uma análise exaustiva de todos os componentes para identificar quais podem ser movidos à nuvem com o menor impacto possível. A outra, a atualização Big Bang, considerada uma estratégia de alto risco, mas que traz benefícios imediatos se feita corretamente. Por fim, a atuação sobre o modo híbrido das empresas, em que as operadoras utilizariam sistemas nativos à nuvem em conjunto com sistemas legados locais, deixando de utilizar paulatinamente os sistemas antigos em favor dos novos.
“Sem dúvida, a indústria de telecomunicações está ciente do valor e da importância de migrar seus sistemas para a nuvem. Apesar da mudança ter um ritmo lento, em consequência de seu histórico e complexidade, ela vai ser constante, e provavelmente acelerará nos próximos anos. A pressão vem não apenas de concorrentes diretos, mas também de indústrias adjacentes, como mídia e tecnologia. Resta saber se as organizações vão agir rápido o suficiente para transformarem-se e manterem-se relevantes nesse mercado altamente competitivo”, ressaltou o profissional, que tem 10 anos de experiência na área.
Promessa de investimentos
Segundo dados da SmC+ Digital Public Affairs, o investimento em infraestrutura de telecomunicações pode chegar a US$ 4,5 bilhões até 2030 no Brasil. O relatório "Novas dinâmicas da gestão da infraestrutura de telecomunicações na América Latina”, também aponta a necessidade de implantação de mais de 240 mil novos sites de telecomunicações no Brasil até 2030.
Demanda por novos serviços de internet, fim do abismo digital e a chegada da tecnologia 5G são as principais motivações para investir no setor.