Às vésperas da chegada de um novo ano, as perspectivas para 2022 apontam que o home office tende a se estabelecer de vez como sistema de trabalho definitivo para muitos profissionais. Quase dois anos após as primeiras medidas restritivas de combate ao coronavírus, trabalhar em casa parece já ter deixado de ser uma opção meramente emergencial, e vai ganhando status oficial em muitas empresas.
Esse cenário está em consonância com o desejo da maioria dos trabalhadores que aderiram ao home office. Pesquisa realizada pela FEA-USP em parceria com a FIA (Fundação Instituto de Administração) indica que, de 2020 para 2021, aumentou o número de profissionais que preferem continuar trabalhando em seus lares após o término da pandemia – mesmo sem ninguém saber, de fato, quando isso irá acontecer. Ou seja, a tendência é que o sistema de trabalho a distância siga forte em 2022.
Em 2020, 70% dos entrevistados revelaram desejo de seguir em home office após o fim da crise sanitária. Já em 2021, esse número chegou a 78%, mostrando que mais profissionais se sentem acostumados com a rotina de trabalho remota. O aumento também pode ter relação com uma melhora nas condições de trabalho – equipamentos, gestão, horários – já que as seguidas ondas de novas cepas de Covid19 obrigaram empresas e funcionários a encarar a situação com mais seriedade, investindo em melhores estruturas para trabalhar em seus lares.
A pesquisa da USP também aponta outros dados interessantes sobre a nova realidade de trabalho, e um deles tem a ver com a satisfação dos trabalhadores em home office: em todos os quesitos abordados pelo estudo – realização profissional, reconhecimento da empresa, melhora da qualidade de vida – ela aumentou sensivelmente.
E os números não são animadores apenas para os colaboradores, mas também para os gestores e líderes. Segundo a pesquisa, cresceu também a porcentagem de profissionais que acreditam que produzem mais e melhor a partir de suas casas – o que pode ser muito interessante para as empresas. Para 81% dos entrevistados, sua produtividade é maior no home office – em 2020, esse número era de 73%.
Com tantas vantagens envolvidas, muitas empresas que migraram para o home office durante a pandemia já definiram que pretendem manter o sistema como definitivo. Outras, na verdade, já nasceram baseadas em uma dinâmica de trabalho remoto desde o início. A startup de tecnologia Carupi, que atua no setor automotivo, foi criada em 2019 – antes, portanto, da pandemia de Covid19 – e desde o início das atividades tem todo seu time de colaboradores baseado em suas casas. "O home office nos permite atrair talentos não apenas de todo o Brasil, mas de todo o mundo, e também é muito coerente com a solução que trouxemos para o mercado de compra e venda de carros", diz Diego Fischer, fundador e CEO da empresa.
Com quase três anos de mercado – dois deles praticamente sob o cenário de pandemia – a opção pelo modelo remoto parece ter sido acertada para a autotech: crescendo exponencialmente desde sua abertura, a Carupi já conta seus colaboradores na casa das centenas, e não pretende abrir mão do home office.
O alerta fica por conta dos excessos: separar os momentos de vida pessoal e vida profissional, no ambiente de casa, pode ser desafiador para os profissionais, levando a jornadas de trabalho maiores e aumentando os riscos de problemas de relacionamento e de saúde mental. Cientes de que seus colaboradores são o principal ativo de suas companhias, especialmente em regime de home office, líderes e gestores já têm tomado iniciativas para reduzir as chances de esgotamento de seus times e promover um ambiente de trabalho – mesmo a distância – mais saudável.
Na Carupi, por exemplo, Fischer adotou um sistema de registro anônimo de eventos de assédio durante o trabalho. "Toda a equipe passou por um extenso treinamento para educar e entender quais são os tipos de assédio no ambiente de trabalho, e cada um possui acesso a essa ferramenta para reportar eventuais incidentes ao comando da empresa sem precisar se identificar'', diz o executivo.