Não é preciso ir muito longe para constatar que a pandemia do novo coronavírus, declarada pela OMS em março de 2020, desencadeou inúmeras transformações e acelerou esse processo de transição em várias áreas, como aponta o pesquisador de filosofia social e professor da UFBA, Leonardo da Hora. As mudanças nas relações sociais, econômicas e profissionais levaram muitas pessoas a mudarem suas rotas e se reinventarem. Segundo estudo realizado pela Tera e a Scoop & Co, com apoio de Época Negócios, em 2020 63% das pessoas realizaram alguma mudança de carreira e 70% buscam por algo mais alinhado aos seus próprios interesses e propósitos de vida.
Não por acaso a procura por cursos de especialização a distância registrou um crescimento de 130% nas buscas, em 2020, segundo um levantamento do Google. Para especialistas, da área de recursos humanos, para que uma transição seja feita da melhor forma possível, é preciso criar um planejamento que inclua, entre outros pontos, o estudo e a criação de uma boa rede de contatos.
Foi nesse cenário de pandemia com incertezas e transformações que Gisele Fortes, especialista em comunicação corporativa, com mais de 20 anos de profissão, decidiu apostar em uma nova carreira ao fazer um curso de formação de escritores, virtualmente.
O curso, que antes era ofertado presencialmente em Porto Alegre, por conta da pandemia passou a ser ministrado pela internet, permitindo que pessoas, como Gisele, se aprofundassem no assunto e se sentissem encorajadas a tentarem novas oportunidades em áreas que estivessem mais de acordo com seus interesses.
A busca por atividades mais alinhadas a propósitos e objetivos de vida tem sido o foco de muitos profissionais no Brasil. Uma pesquisa realizada em 2020 mostrou que 90% dos trabalhadores desejam realizar a mudança de carreira, seja para melhorar as condições financeiras, mudar de segmento ou até mesmo para terem uma melhor qualidade de vida. E foi justamente a pandemia que fez com que Gisele decidisse não perder mais tempo e se dedicasse a tornar sua paixão uma nova profissão. Embora, considere ter tido êxito em sua carreira e os anos de mundo corporativo lhe rendessem experiência, hoje ela se vê muito mais feliz e disposta na nova empreitada. Com a missão de levar entretenimento e também reflexões sobre temas importantes para a sociedade, a nova escritora enxerga potencial na atual carreira, apesar dos desafios.
Por ser uma leitora assídua e rascunhar textos autorais, desde criança, apostar na profissão de escritora tem se revelado algo bastante produtivo, já que, antes mesmo de terminar o curso Gisele tem dois romances publicados, o Pronta para viver e Todas as curvas do caminho, e um terceiro livro auto ficcional, que inclui uma experiência sensorial através de uma playlist, prestes a ser lançado.
Mesmo com as limitações que o ensino à distância ou o home office podem acarretar, como, por exemplo, a falta de contato e troca com colegas. Para o economista Gabriel Pinto, ainda que o Brasil tenha uma certa resistência, o networking digital deve ser ampliado e ganhará cada vez mais adeptos. No caso da escritora Gisele, a rede de contatos virtuais foi um dos pontos que a impulsionaram a seguir com seus projetos, já que foi possível trocar ideias e experiências com outros autores independentes, de várias regiões do país, que segundo ela, mostraram o caminho das pedras para que ela produzisse suas primeiras obras de forma independente.
Embora o medo de se arriscar em novas profissões, seja representado por 13,5% dos entrevistados, as constantes transformações que o mercado de trabalho vem sofrendo deixam claro que é preciso se adaptar aos novos formatos e que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal devem estar cada vez mais alinhados. Para Gisele a lição que ficou foi que qualquer pessoa pode recomeçar, se reinventar e apostar nos sonhos, independentemente de idade e profissão.