O Observatório de Oncologia analisou dados de atendimento das mulheres com câncer de ovário no Brasil, no âmbito do SUS, entre 2014 a 2019. Os resultados apresentados demonstram que a maioria das brasileiras são diagnosticadas em estadiamento avançado, o que provoca o início tardio do tratamento e, consequentemente, o aumento dos gastos no sistema público de saúde.
O tumor de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais comum e o oitavo tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no mundo. É caracterizado por ser um câncer silencioso, que demora a apresentar sintomas e pode crescer bastante antes de ser detectado. Por isso, mais de 75% dos casos têm o diagnóstico quando a doença já está avançada.
No Brasil, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são esperados 6.650 casos novos da doença em 2021. No ano de 2019, 4.123 mulheres morreram por causa deste tipo de tumor.
"O resultado da avaliação do Observatório de Oncologia traz informações necessárias para apoiar a gestão das políticas de saúde voltadas ao controle do câncer de ovário no país", afirma a presidente da Abrale, Merula Steagall, líder do movimento Todos Juntos Contra o Câncer.
O estudo teve como base dados secundários disponibilizados pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS) e por estabelecimentos de saúde que compõem o Registro Hospitalar de Câncer (RHC) do Instituto Nacional de Câncer (INCA) de mulheres diagnosticadas com câncer de ovário atendidas no Sistema único de Saúde (SUS), entre 2014 e 2019.
As informações obtidas revelam a gravidade do cenário da doença no Brasil. Uma parcela considerável dos casos confirmados (37,3%) não possui registros sobre o estadiamento da doença no momento do diagnóstico no RHC. Entre os casos com esta informação preenchida, 68% foram diagnosticadas tardiamente (estágios 3 e 4).
O tempo médio entre a primeira consulta com o médico especialista e o diagnóstico do câncer de ovário foi de 45 dias e 31,2% das mulheres tiveram a confirmação do diagnóstico após 30 dias. Já o tempo entre diagnóstico e o primeiro tratamento oncológico apresentou uma média de 44 dias. Cerca de 19% das mulheres iniciaram o tratamento após 60 dias.
Uma das dificuldades para o diagnóstico precoce deste tipo de câncer é a falta de sintomas. "Alguns sinais como dor, aumento do volume abdominal, inapetência, perda de peso merecem atenção e necessitam de avaliação médica. Podem ser sinais de câncer de ovário, mas também de outros tumores", destaca a oncologista Juliana Pimenta, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer. "No entanto, não existem métodos para diagnóstico precoce, como nos tumores de mama e colo de útero, por exemplo.
Medidas como a adoção de uma dieta saudável e uma rotina de atividade física são uma boa forma de reduzir risco de diversos tipos de tumores, inclusive o de ovário", completa a médica.
Os primeiros tratamentos realizados por pacientes diagnosticadas com câncer de ovário, de acordo com o levantamento do Observatório de Oncologia, foram cirurgia (65,8%) e quimioterapia (26,9%).
Segundo as informações obtidas no Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), 86,5% das mulheres atendidas foram diagnosticadas em estadiamento avançado (estágios 3 e 4) e a média de valor gasto por paciente é superior em estadiamentos mais avançados. A faixa etária mais atendida foi a de 50 a 59 anos (30,3%) e 47,5% das mulheres diagnosticadas no período tinham mais de 60 anos de idade. Com relação à raça/cor, 49,1% das mulheres atendidas se auto declaram brancas, 31,7% pardas e 3,9% pretas.
Já de acordo com o Sistema de Informação Hospitalar (SIH), a faixa etária mais atendida também foi a de 50 a 59 anos (24,5%). Com relação à raça/cor, 40,2% das mulheres internadas se auto declaram brancas, 39,1% pardas e 4,6% pretas.
"O Panorama da Atenção ao Câncer de Ovário no SUS evidenciou a principal característica da doença: mulheres diagnosticadas tardiamente", define a pesquisadora do Observatório de Oncologia, Ana Beatriz Machado de Almeida. "Como, para esse tipo de câncer o rastreamento não é recomendado, o diagnóstico continua sendo considerado desafio para a Medicina".