Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) entre 2003 e 2012 revelou um aumento de quase 800% no consumo de metilfenidato, conhecido como ritalina, usado para o tratamento de pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Com o aumento das prescrições médicas da ritalina, em 2018, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), publicou uma resolução em que adverte para o fim da prescrição excessiva de medicamentos em crianças e adolescentes no tratamento de problemas relacionados à aprendizagem e ao comportamento.
Mas, por que tantas crianças então sendo diagnosticadas com transtornos cognitivos e tratadas com remédios de tarja preta?
As especialistas do sono, Jéssica Thuannie e Luciana Sales, recebem diariamente pais e mães com reclamações sobre o temperamento difícil dos filhos, inquietação e tantos outros rótulos colocados quando a criança está hiperativa. Esse comportamento superagitado, em conjunto com as birras e crises de choro e irritação, são pratos cheios para que os pais acreditem que os filhos tenham TDAH hiperativo-impulsivo. “Muitas vezes os pais acham que as birras estão relacionadas ao temperamento, mas, quando se analisa a rotina da família, percebe-se que ela não atende às necessidades da criança”, diz Jéssica Thauannie, que tece comparações entre a rotina dos pais e dos filhos e mostra a diferença: “uma criança menor de 3-4 anos não consegue ficar 12 horas ou mais acordada. Quando isso acontece, o corpo entra em estado de alerta e são liberados hormônios para repor as energias, o que gera a hiperatividade. Neste caso, a criança é rotulada de chata ou mal-humorada, e isso pode ser apenas reflexo de cansaço acumulado por uma rotina mal equilibrada.”
E como lidar com o “temperamento” e “hiperatividade” dos filhos?
Inquietação, desorganização, dificuldade de brincar de maneira silenciosa, irritabilidade, problemas de concentração são os principais sintomas de crianças que sofrem de TDAH, mas, também, são sintomas de falta de rotina e de cansaço acumulado.
Na pandemia, outros fatores como a ansiedade e o estresse provocados pelo isolamento e mudança de rotina, agravaram ainda mais a situação. Jéssica e Luciana dizem que têm recebido um número maior de pessoas em busca de ajuda. “As crianças estão mais agitadas e com mais dificuldades para dormir”, afirmam.
Daniele Paraiso conta que seu filho era rotulado: “meu filho era tachado de chato, mas hoje entendo que esse comportamento era só cansaço acumulado, ele só queria colo... estudando sobre sono infantil e rotina da criança, percebi que ele era muito sensível a estímulos e precisei sacrificar até mesmo idas à casa dos avós nos horários do sono dele para não comprometer seu descanso.”
De acordo com as especialistas, os pais precisam respeitar o ritmo da criança. “Aqui vamos pontuar duas informações: os pais precisam entender que uma criança descansada tem mais chances de ter um sono prolongado durante a noite. Para isso, é necessário não acumular atividades o tempo todo na rotina da criança, para que ela tenha momentos de relaxamento e, com isso, consiga desacelerar, dormir boas sonecas e repor as energias da maneira correta”, reforça Luciana.
A rotina equilibrada e adequada conforme a faixa etária é a base para que a criança seja mais saudável e não fique nervosa, chore muito ou tenha crises de birras. “No primeiro ano de vida, a rotina da criança muda a cada mês, depois entre o 15º e o 20° mês de vida pode ocorrer uma nova regressão no sono”, diz Luciana Sales. Ela alerta que é muito importante ter as informações corretas em mãos para readaptar a rotina da criança a cada idade conforme ela cresce.
Excesso de medicalização infantil
Mesmo com a advertência do excesso de medicamentos, o Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (IDUM), mostrou que o Brasil é o segundo maior consumidor de ritalina, perdendo apenas para os Estados Unidos. Infelizmente, a medicalização infantil é utilizada sem levar em conta outros fatores, tais como, a rotina das crianças, horários das sonecas e o excesso de estímulos durante o dia que podem produzir os hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol. “É muito importante que os pais observem se a criança começou a abandonar as sonecas. A raiz do problema é o cansaço acumulado. Isso precisa ser superado não compensando em horas de sono, mas com mudança de hábitos, evitando estímulos em excesso e não acreditando que cansar a criança além do limite dela durante o dia vai dar certo. Isso só piora!”, afirma Jéssica Thuannie.
Além disso, “o desequilíbrio na rotina das crianças tem relação direta com a elevação da produção dos hormônios cortisol e adrenalina, que fazem com que a criança mesmo com sono, não consiga relaxar e dormir”, alerta Jéssica. Crianças que tomam ritalina liberam mais dopamina, importante neurotransmissor precursor natural da adrenalina que controla a hiperatividade e o déficit de atenção. No entanto, seus efeitos colaterais incluem insônia, enjoo e dor de cabeça. Por isso, o diagnóstico errôneo desse transtorno pode piorar os problemas da criança, além de causar dependência. Se seu filho tem temperamento "difícil", é muito agitado e dorme mal, busque ajuda para melhorar a rotina e os hábitos de sono dele antes de partir para soluções mais radicais como as medicamentosas. Na enorme maioria dos casos, o comportamento agitado deve-se a um desequilíbrio na rotina da criança e ao acúmulo de cansaço por conta da criança dormir menos do que necessita.
Ensinando a Sonhar
Luciana e Jéssica são consultoras do sono infantil, sócias-fundadoras da Ensinando a Sonhar, formadas pelo International Parenting and Health Institute (IPHI) e pelo Family Wellness International Institute (FWII), ambos dos E.U.A, e educadoras parentais pela Escola da Parentalidade Positiva de Portugal.
Realizam atendimento personalizado para pais que enfrentam problemas com filhos que não dormem bem e, para ampliar e democratizar o método exclusivo da Ensinado a Sonhar, elas criaram um curso online que já ajudou mais de 7.000 famílias a melhorarem o sono de seus pequenos e de todos na casa.
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