Quando um estudo genealógico é iniciado, não é possível saber exatamente onde se vai chegar. Não é incomum a descoberta de histórias que surpreendam ou de conexões ancestrais das quais não se tinha conhecimento. Foi exatamente esse o caso de Pedro Arruda. Pesquisador especializado em genealogia sefardita, Pedro, ao buscar por seus ascendentes, acabou por descobrir que ele e o jogador português Cristiano Ronaldo têm uma ancestral em comum.
A descoberta, que comprova que o jogador Cristiano Ronaldo tem raízes judaicas, ocorreu de maneira despropositada e foi uma surpresa para Pedro e os demais genealogistas da Martins Castro que colaboraram na pesquisa. "Descobri não só que ele (Cristiano Ronaldo) descende desses judeus como temos a mesma ancestral cristã-nova", comemora o pesquisador. A ancestral em questão é Leonor Ribeiro. Presa e torturada pela Inquisição sob a acusação do crime de judaísmo, Leonor morreu em Lisboa, em 1595, viúva e longe da família.
A pesquisa mostra que o jogador Cristiano Ronaldo, tal como outros portugueses originários da Ilha da Madeira, é descendente dos judeus portugueses que fugiram do continente para escapar da perseguição no início do século XVI. Sabe-se que a ilha foi uma das principais rotas migratórias para os judeus que buscavam fugir do controle mais rigoroso do Santo Ofício.
Para Renato Martins, advogado e sócio de um escritório que atua na área de mobilidade internacional "descobrir a ascendência sefardita de alguém famoso como o Cristiano Ronaldo ajuda a tornar a lei conhecida não apenas no Brasil e em Portugal, mas no mundo todo!". O advogado acredita que, enquanto meio de reparação histórica, a cidadania portuguesa pela via sefardita ainda precisa ser mais difundida. "Esses judeus migraram para várias partes do mundo e estima-se que milhares de latino-americanos tenham direito a esse regaste. O grande desafio hoje é a divulgação dessa possibilidade", afirma.
A Lei do Reparo e a genealogia
A legislação portuguesa, desde 2015, por meio da Lei nº 1/2013 e do Decreto-Lei 30-A/2015, passou a conceder a nacionalidade portuguesa, por naturalização, aos descendentes de judeus sefarditas. Esta é uma conquista para os descendentes de judeus sefarditas que hoje têm a chance de reconquistar suas origens portuguesas através da obtenção da nacionalidade.
Um dos pontos debatidos no processo de aprovação e regulamentação da lei, que ficou conhecida como a lei do reparo, foi de que maneira se daria a confirmação da ascendência sefardita. Definiu-se então que essa descendência é atestada por meio de um estudo genealógico que é depois submetido às Comunidades Israelitas de Lisboa ou do Porto. Assim a genealogia tem ganhado destaque e cumprido papel primordial nos processos de nacionalidade pela via sefardita.
Para estes casos específicos, o estudo genealógico busca encontrar um vínculo entre o requerente do pedido de nacionalidade e os judeus sefarditas. Trata-se de voltar no tempo. De percorrer séculos de história, uma vez que os judeus sefarditas eram os judeus da antiga Península Ibérica (Portugal e Espanha), que a partir de finais do século XV passaram a ser perseguidos pelo Estado e pela Santa Inquisição.
A historiadora e genealogista da Martins Castro, Camila Amaral, conta que “dezenas de milhares de judeus foram forçados a receber a água batismal e passaram a ser identificados como cristãos novos”. Camila acrescenta, ainda, que outros tantos judeus fugiram, tendo como destino final vários países a exemplo do Brasil, Argentina, Colômbia, México e Venezuela.
Sabe-se assim que muitos brasileiros podem ter direito à nacionalidade portuguesa, e, na medida em que esta possibilidade se torna mais conhecida no país, aumenta o interesse pela genealogia e por mais informações sobre o processo legal em si. Esse crescimento tem sido sentido pela Martins Castro nos últimos meses. “Na medida em que a legislação se torna mais conhecida no Brasil, temos percebido um aumento do interesse por parte dos brasileiros que em cada vez maior número entram em contato conosco em busca de mais informações e assessoria para iniciar o processo”, afirma Renato Martins.